1.
A homossexualidade
As
sociedades têm, na sua maioria, uma ideia pré-concebida de que toda a
humanidade é heterossexual, que todos os indivíduos que nela se incluem sentem
atração por outros do sexo oposto, sendo isso uma norma, quase uma “lei”. O que
se encontra para lá dos limites dessa norma é considerado diferente, anormal e,
por conseguinte, mau. Estes indivíduos que optam por este meio de vida não
convencional devem ser imediatamente excluídos e afastados, sendo a
homossexualidade quase comparada a uma doença, uma praga, algo que, se não nos
mantivermos suficientemente afastados, se pode alastrar.
Mas
pondo de parte todo este preconceito, o que é realmente a homossexualidade?
Será uma opção, uma escolha, ou algo genético, uma característica inerente a
certos seres humanos quando nascem, tal como o é a heterossexualidade?
O
termo homossexualidade teve origem no grego homos
que significa mesmo e sexus que
significa sexo e consiste na preferência sexual, atração física e emocional,
por indivíduos do mesmo sexo. É, segundo estudos científicos recentes, uma orientação
sexual definida geneticamente na infância. Existe, no entanto, uma certa
controvérsia no que diz respeito às possíveis causas da homossexualidade.
Alguns investigadores e psicanalistas defendem que tem uma origem genética.
Outros, pelo contrário, partilham a opinião que esta orientação sexual é o
resultado da educação e meio ambiente em que os indivíduos em questão foram
criados. No entanto, todos eles defendem que a homossexualidade não é uma
doença ou uma opção, mas sim uma característica partilhada por certos seres
humanos, na qual a vontade individual de cada um não tem qualquer relevância.
Ao
longo da história, a homossexualidade foi admirada, tolerada ou condenada
conforme o contexto cultural e as normas sexuais da época. Quando admirada, era
encarrada como uma forma de melhorar a sociedade. Quando condenada, era um
pecado, uma doença, algo que ia contra as normas sociais e bíblicas, contra o
que era padrão. Até inícios do último quartel do séc.XIX, a homossexualidade
era considerada uma doença mental que até poderia ter causas físicas ou ter
surgido devido a um desvio da orientação sexual provocado por uma perturbação
nessa área. A partir dessa altura, começa a ser feita grande pressão, por parte
dos homossexuais, na comunidade médica de forma a alterar este rótulo de
doença. Esta comunidade acabou por ceder, em grande parte devido a não se terem
registado qualquer diferenças do foro psicológico e mental entre um indivíduo
heterossexual e um indivíduo homossexual. A homossexualidade tem então vindo a
perder a denominação de doença, para ser aceite em quase todos os países
desenvolvidos. Existem, no entanto, países em que a homossexualidade é ainda
associada a um grande mal, chegando mesmo ao extremo de ser considerado crime e
condenada a severas penas, incluindo a pena de morte.
O
que se verifica em muitas sociedades, essencialmente nas tribos africanas é que
a homossexualidade surge como um meio de alcançar prestígio, sendo praticada
por todos os homens na fase da puberdade. Na verdade, as primeiras experiências
sexuais dos rapazes eram com homens mais velhos, pois só assim eles poderiam
ganhar status que os permitissem
casar com uma mulher. Para além disto, tinham também que iniciar um rapaz mais
novo. Mesmo depois de casados, os homens poderiam continuar a ter relações
homossexuais. Por outro lado, a homossexualidade exclusiva era desconhecida e
incompreensível.
Família. É
um dos contextos no qual os homossexuais também sentem necessidade de se
afirmar. É a aceitação da família, daqueles com quem sempre convivemos e que
nos deram amor e transmitiram valores e princípios, que primeiramente
procuramos. Muitas vezes, só com essa aprovação podemos viver realmente
felizes. Nos dias atuais, mesmo a homossexualidade já não sendo um tema tabu, proibido e que cause tanta repulsa
e medo, muitos pais ainda temem a futura orientação sexual dos seus filhos,
muitos ainda os rejeitam. É mais complicado aceitar quando o problema nos afeta
a nós, podendo, em certos casos, até destruir famílias. Mesmo sentindo amor
pelos filhos, os princípios e valores enraizados e que foram transmitidos ainda
impedem muitos casais de aceitarem plenamente esta orientação sexual. A família
é o primeiro lugar onde se procura apoio. Se nem a família aceita, então é
preciso questionar se a sociedade o vai fazer, sendo isso que muitas vezes
impede um homossexual de revelar a sua identidade.
É
na escola que uma criança começa a ganhar certos princípios e ideias que a vão
acompanhar ao longo da sua vida. É, portanto, também neste local que se deve
começar a educar as crianças no sentido de estas interiorizarem que,
independentemente das diferenças, todos somos iguais e temos os mesmos
direitos. No entanto, acaba por ser na escola, no lugar que deveria ser o mais
neutro, que estes preconceitos se começam a criar e a enraizar. Começa por
coisas simples como criar piadas com um aluno que gosta de brincar mais com
bonecas ou que se relaciona com as raparigas até concretizar uma plena exclusão
desse mesmo aluno, que começa a ser posto de parte em todas as actividades
escolares. Muitas vezes estas reacções não surgem só da parte dos colegas, mas
também dos professores que os deviam ensinar a ser imparciais, mas que não o
conseguem fazer uma vez que eles próprios também não o são. A atitude dos pais
também é muito relevante visto que muitas vezes eles incentivam as suas
crianças a afastarem-se daquela que apresenta um comportamento considerado por
eles como sendo “fora do normal”. Numa fase mais avançada da escolaridade e com
esses princípios já enraizados, a exclusão social avança para comportamentos
mais violentos como o bullying e
agressão física e psicológica.
No
que diz respeito à adoção por casais homossexuais também não existe consenso.
Há quem argumente que os casais homossexuais são piores pais que os casais
heterossexuais, o que não se registou até à data visto que a orientação sexual
de um indivíduo não determina a sua aptidão para a paternidade, sendo que os
filhos de pais homossexuais são tão saudáveis como quaisquer outras crianças. O
facto de terem pais homossexuais também não significa que irão ter a mesma
orientação sexual que os pais, visto até que a maior parte dos homossexuais têm
por pais casais heterossexuais.
A
relação entre a homossexualidade e a religião variou muito na história, de
acorda com a época e os preceitos da religião maioritária. No seio da
civilização grega, a homossexualidade era claramente aprovada e incentivada,
para, mais tarde, ser perseguida pelo Cristianismo. Atualmente, não é algo
positivo e visto com bons olhos, sendo que muitas religiões consideram pecado e
rejeitam e excluem todos aqueles que o praticam. Existem, no entanto, algumas vozes
dentro das religiões que veem de um ponto de vista mais positivo a
homossexualidade. Veem para lá do que é ditado pela religião, conseguindo
discernir o amor que existe na união. Concordando ou não, existe um princípio
de deve ser considerado universal e transversal para todas as religiões e que
está expresso num versículo da Bíblia: a ideia de que, mesmo não concordando
com a prática homossexual pois todos temos o direito de ser a favor ou contra,
devemos respeitar e não reagir com agressividade ou repulsa.
Como
membros de minorias, em muitas sociedades os homossexuais ainda são vítimas de
preconceitos e discriminação, o que se traduz, em muitos casos, em violência
física e psicológica contra elas perpetuada. Estas reacções são típicas de um
comportamento homofóbico. A homofobia foi uma teoria desenvolvida há alguns
anos e que se caracteriza pelo medo, aversão ou discriminação contra os
homossexuais, tendo por base, algumas vezes, o “medo de contágio”.
Existe
também o heterossexismo que é uma atitude mental que implica rotular as
minorias sexuais na sociedade como inferiores. A heterossexualidade é, na
sociedade, a norma, logo algo normal, sendo que, segunda o heterossexismo, tudo
o que vai para lá disso, no que diz respeito à orientação sexual de um
indivíduo, é inferior e não merece consideração. É uma atitude de preconceitos
e discriminação contra todos os que não são heterossexuais, diferenciando-se da
homofobia pois diz respeito a uma atitude partilhada por um todo, um grupo, enquanto
a homofobia caracteriza uma atitude individual.
Em
suma, apesar de a homossexualidade estar muito mais liberalizada nos dias de
hoje, ainda existem alguns focos de discriminação e preconceito, mesmo nos
países desenvolvidos. Isto dá a entender, por parte da sociedade e de cada
indivíduo em particular, uma “falsa” aceitação da homossexualidade, sendo os
mesmos ainda muito excluídos e olhados de lado. É preciso então
questionarmo-nos se, nos dias de hoje, isto ainda é admissível, sendo que
pregamos ao mundo o quão avançados somos.